Papo de Quintal

Mesmo sendo a mais nova, foi ela, a Magnólia, quem primeiro notou e, perguntou ao velho e feio Pinheiro: "O que está acontecendo com ela? 
Por que motivo olha tão pouco para nós e onde anda o sorriso? Logo agora quando estou tão cheia de sementes, parece nem notar, parece tão ausente."

O Pinheiro é o mais alto e fala muito pouco, primeiro pigarreia - afinal é rouco - e comenta entre dentes: "É apenas o outono, é isto somente."
Envaidecida de suas roxas flores, a Quaresmeira grita ao Bouganville: "Você está mais perto dela, nos conte o que se passa. O que ouve na janela, são ruídos normais ou algo diferente? Mudou alguma coisa? É impressão da gente?"

Sem dar tempo a resposta, a Sapucaia (ainda com jeito de "arvorezinha obediente") começa a falar em tom complacente: "Eu a conheço bem, faz muito tempo - sou sua confidente - como diz o Pinheiro, é outono."

"Ela não se acostuma e sofre a mesma recaída. Se fosse como eu já teria aprendido, mas, sei como se sente.
A cada ano, minhas folhas são arrancadas pelo vento. E daí? Renascerão a cada primavera e ficarei mais nova e mais linda a cada renascer. Mas, ela não se acostuma, não se dá conta e, se alheia num vagar de tonta entre a sala e a cozinha, procura uma verdade oculta, uma ciência e, enquanto não acha, só "faz paciência", sem nada notar."

As estrelas começam a surgir neste instante - e percebem o papo, mesmo tão distantes. Aldebarã pisca um olho brejeira e sorrindo exclama inconfidente: "Calma, muita calma, minha gente. Ela pensa que é sábia, mas as vezes duvida. Sente apenas as coisas que sentem "as gentes"- saudades, melancolia, tédio, inquietações e igual a vocês, muda nas estações.  Isto tudo, embora intenso, é breve.  Aguardem, ela virá novamente à janela, não demora nada, o tempo - para mim nem conta - mas está começando a contar para ela."

Thereza Di Buriasco.

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