Comprei minha casa, em fevereiro de 1969, minhas filhas eram pequenas e fomos "explorar" o quintal, apreciar de perto os passarinhos. Descobrimos três pés de lima da pérsia, três limoeiros, um pinheiro muito velho e meio desfolhado, pitangueiras, um abacateiro, muitos pés de morango silvestre, muita maria-sem-vergonha, muita costela-de-adão, um manacá e um pé de tomate francês que já era raro na ocasião. Entre tudo isto estava crescendo um "matinho" de mais ou menos um metro de altura e parecia seco e espinhoso. Preocupada com a possibilidade das meninas virem a se machucar, resolvi cortar os galhos, mas quando cortei o primeiro, percebi que não eram espinhos e sim brotos muito enroladinhos. Me deu uma dor no coração, eu estava cortando uma árvore viva. A partir daí, ela foi crescendo e ficando frondosa no verão, amarelando as folhas no outono, ficando pelada no inverno e brotando novamente em cada primavera. Sem saber o que era, coloquei o nome de "árvorezinha obediente", afinal era a única a seguir as estações. O tempo passando, ela crescendo e a cada inverno o coro dos vizinhos reclamando das folhas que caiam e eu dizia: não reclamem, agradeçam, ela está fornecendo adubo natural para todos nós. Alguns diziam que ela estava muito alta e poderia cair. Ela é alta, linda e não vai cair nunca, tem a raiz muito profunda. Um dia, Eugênio, um amigo baiano e querido, olhou, sorriu e disse "Você tem uma sapucaia no quintal... vai ficar linda na primavera quando começar a a florir... "Fiquei maravilhada, uma sapucaia!
Quando todas as filhas casaram, tive meia hora de crise de solidão (ou meia idade?) e foi muito engraçado, estava chorando e pensando que havia comprado a casa para as filhas e elas estavam morando tão longe.... uma em Minas, duas no Paraná. Olhando pela janela, vi a Sapucaia imponente e linda. Pensei: que direito tem de chorar quem tem uma sapucaia no quintal? E voltei a rir. No inverno de 1987, para estar mais perto da família, vendi a casa e me mudei para Londrina, mas o comprador não conseguindo fazer o pagamento, me devolveu o imóvel. Quando voltei, na primavera de 1988, me senti em casa outra vez. A Sapucaia, a minha espera, se mostrava cor de rosa pela primeira vez.
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