Outro fim de ano caminhando na areia em Copacabana! Mas... eu este ano não estava a fim. Queria ver alguma coisa diferente, quem sabe outro lugar. Mas Helena pediu tanto. Ela é especial. Somos amigas desde sempre... a gente entrou na escola junto. Mas, fala sério, depois de algum tempo ficar ali no calçadão ou na areia, com aquele monte de gente esperando os fogos da meia noite, vai ficando um saco! Bem, o meu humor não está dos melhores, no apartamento de Helena nem pensar em ir. Maior auê! Os grandes preparativos para o jantar de amanhã, apresentação do gringo. É sério, ela conheceu um americano e ele vai chegar amanhã para conhecer a família e passar alguns dias aqui, nem sei como vai ser, parece que não fala nada de português, eu não manjo chongas de inglês, vamos sorrir um para o outro. Ah! A vida é tão engaçada, eu sempre dei mais sorte para arranjar namorado, ela foi sempre mais acomodada e agora vem de americano, bem de vida. Logo, logo estará casando e indo embora.. e eu, a "sortuda", vou ficar aqui, esperando sei lá quem. Ai! Derrubaram qualquer coisa no meu pé, é um tal de esbarrar! Uma gente folgada. Não posso esquecer de comer as três colheradas de lentilha quando chegar em casa. Ai, aqui está muito apertado, vou ver se consigo um lugar com menos gente, ficar lá com o pessoal, nem pensar. Porque quando familia reune é sempre assim, no começo tudo calmo, comportado, começa a descer cerveja e lá vem a baixaria... detesto, festa de família! E ainda duas seguidas... é dose. Engraçado aquele carinha está me olhando mesmo, veio andando atrás de mim. Será? Tem cara de gringo, cara de bobo... Detesto americano! Gente esperta, sempre querendo enganar os outros! Pensam que são os donos do mundo! Também pode ser que ele não seja americano, está sozinho. Parece tímido, é meio sem graça ficar sozinho no 31 de dezembro vendo tanta gente rindo e acompanhada. Só dei um meio sorriso e ele está vindo e olhando para mim.
- Poa noiti!! Tuto pem?
- Oi...
O português dele era bem estropiado mas deu para a gente se entender, andamos, sentamos, falamos muito, rimos. Bom, também nem sei como ele conseguia me entender. Não era um homem lindo. Mas que olhos verdes!!! Sabe aquele olho que a gente não consegue deixar de olhar? Pois é!! Meia noite, todo mundo se abraçando e quando dei por mim a gente estava no maior beijo. Eu ainda não estava acreditando. Aí o foguetório!!! Tudo muito lindo, como sempre e eu não querendo ver mais nada, só aquele olhão verde! Verde pra gente nadar, verde pra gente afogar... já estava gostando.. Legal, aconchegante, a noite passando, dali a pouco o dia amanheceu, nós de mãos dadas... Andamos até uma padaria para tomar um café, já meio tontos de sono. Ele contou que estava num hotel ali perto, mas eu disse que meus pais estariam esperando, quem sabe a gente poderia se encontrar amanhã? Ele disse: - Quem sabe? E sorriu.
Fui caminhando, pensando em quanta coisa tínhamos conversado mesmo um não dominando o idioma do outro. Ele falou que os americanos não concordavam com muitas barbaridades que o governo praticava. Falou de sua cidade, bonita, pacata, de seus parentes, era engenheiro, trabalhava numa grande indústria. Estava aqui a passeio. Meu Deus, nunca pensei em saber tanto sobre um homem em tão pouco tempo. Nunca poderia esperar que tudo tivesse sido tão bom. Preciso contar para Helena. Mais tarde, agora preciso tomar um banho e dormir para estar inteira logo mais. Seria melhor não ter compromisso com Helena. Queria mesmo era sair pelo calçadão e quem sabe, encontrar o moço dos olhos verdes! Bem bastava não ficar muito na festa. Sair meio de fininho. Uma oportunidade dessas não dá para perder... Ao tocar a campainha, senti pelo clima que não ia ser fácil sair mais cedo. Todos estavam muito elegantes, mesa posta. Helena em cólicas! Que jantar... esqueci um pouco os olhos verdes e pensei em quanto nós brasileiros somos subservientes. Todo aquele luxo só porque o cara era gringo e rico!!! Bem, que seja. Cada um na sua!!! Todos falando ao mesmo tempo, quando tocou a campainha, ela gritou:
- Deixa que eu abro! Correu para porta, na maior ansiedade, beijaram-se e ela apresentou:
- Gente, este é o Mike!
Pô meu, e tinha que ser logo o "meu" gringo?
Thereza Di Buriasco
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